quarta-feira, 13 de março de 2013

Morreu um homem

Àqueles que acordam em minha geração
(acordam a minha geração)
 e por isso não dormem...
Aos meus semelhantes
 

Nesta noite, morreu um homem
Não.
Morreu também um bicho
Morreu

A arma encostada em minhas costelas que se partiriam sem criar
O suor frio, o ódio contido, a iminência da morte de um inocente

Um bicho

As ordens de entregar o que quer que fosse
A dúvida de ser ou não um óculos de marca
Tudo! Tudo!
Os pontapés, os socos, os abusos, a violência em cada ato

E o bicho

A fúria da cocaína, do pé no barro desde criança
O barro fétido do grande rio que corta a periferia como uma veia podre

O bicho

Olhava

Nesta noite, morreu um homem
Diversos tiros pelo corpo
Um sangue podre como o barro
A escorrer com o cheiro do veneno de natais sem presente
Da mãe violentada pelos homens todos
Tudo!
Da televisão e da felicidade em cada óculos escuros
Da realização aparente a cada cavalo estampado nas camisas que não lhe vestiam

O bicho
Gritava apavorado, acuado!

Nesta noite, eu o reconheci
O que me sequestrara, me humilhara
Estendido a tudo o que eu sempre desejei desde então:
a miséria mais imunda do poço sem fundo de ódio que criamos

Nesta noite, morreu um homem e ele estava só
Na companhia das balas cravadas em sua carne

Um homem que matou um bicho
Que vivia dentro de mim
Crendo ser um homem
Contra os bichos

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