Metade de um raio perdido de sol em seu rosto
Alguma sensação de que o mundo é seguro
Ela delicadamente pousa seu dedo médio
numa tecla numa região média de um piano médio na Estação da Luz
O som é incerto, desafinado por úmidos rumores diários no salão de passagem
Oxigênio, umidade, gentes...
Ela toca, ouve, baixo, o que toca, e sabe,
toca o mundo
Quero protegê-la, porque ela me salvou,
porque ela me disse com isso coisas da grande cidade que come sonhos
mas que dorme às noites (dorme?) e abre espaço para o qualquer
desejo que nos guarda de nossa autodestruição
Seus olhos de índia,
seus cabelos indecisos entre colonizadores e colonizados
seus cabelos presos num rabo de cavalo familiar, armado pelas tias que cuidam dela, que ralham com ela, que a protegem de tudo,
de coisas de nós…
Como se o mundo fosse seguro,
ela toca para sempre uma nota,
ela ouve baixinho o que guardam seus dedos em contato
e não sabe,
e não lhe direi!
Não lhe direi, e nem poderia dizer, nunca sobre tudo isso
porque tudo o que destoa entre ela e o mundo
é o modo como seus dedos tocam as teclas
o modo como explora o desconhecido
o modo como confia
e como soa o seu som sozinho
movimentos dela e do ar
ela tem poucos anos
O Jardim Invisível
As personagens e situações aqui presentes pertencem à ficção. Não se referem, portanto, a pessoas ou fatos reais e não emitem sobre eles quaisquer opiniões.
domingo, 28 de julho de 2013
sábado, 6 de julho de 2013
Valsa no Arpoador
No Arpoador
Seus olhos responderão ao chamado
longe, ausente, como for, mesmo machucado
seus olhos, faróis, guiarão o tempo chegado
Os trapos que trarei, pequena,
os medos do mar
as noites de frio
os dias sem ar
tantos dias sem ar...
A ela tocam os sons mais suaves que não sei criar
e que ouço e que desejo como a ela
mas há em si algo que minhas confusas existências não me permitem alcançar
eu a olho
e valsam
valsam
valsam
as ondas do mar
Eu sorrio seu sorriso
apreendo qualquer instante em seus olhos
e eis tudo
porque dela é o riso e os sons que não se navegam
Seus olhos responderão ao chamado
longe, ausente, como for, mesmo machucado
seus olhos, faróis, guiarão o tempo chegado
Os trapos que trarei, pequena,
os medos do mar
as noites de frio
os dias sem ar
tantos dias sem ar...
A ela tocam os sons mais suaves que não sei criar
e que ouço e que desejo como a ela
mas há em si algo que minhas confusas existências não me permitem alcançar
eu a olho
e valsam
valsam
valsam
as ondas do mar
Eu sorrio seu sorriso
apreendo qualquer instante em seus olhos
e eis tudo
porque dela é o riso e os sons que não se navegam
quarta-feira, 26 de junho de 2013
Manifesto
Desejo incontido na noite
em que teus lábios e dentes avermelham-me
tua face cora, tuas unhas pregam
o que trouxeste do pavor de si
na escuridão da minha ausência
Asim, como atado à deriva
das tuas superfícies,
entrego-me ao que buscas
entre os suspiros, os olhos sem rumo,
as palavras incompreensíveis que tocam
alucinantemente cada palmo do ar deste lugar
em ondas, ondas, ondas!
pelos, cabelos, nuca, mãos e pernas
alheios a todas as direções
a todo o medo das ruas lá fora
a tudo o que deve ser ou não
É tempo ainda
e transmutas dor e prazer
nas faces, mil faces esfíngicas,
em formas, mil formas inapreensíveis,
e confuso percorro tua nuca em busca
em busca da fugidia loucura, insânia, necessidade,
entre a trêmula luz e meus olhos fechados,
quem sabe, morder-te...
quem sabe, voar!
Vieste-me contar dos teus,
vieste-me prender nos teus,
vieste-me buscar pros teus,
vieste-me deter nos teus,
vieste-me voar por teus,
vieste-me à superfície para que eu fosse aprofundar-me
e a ti
agora
como que em transe profundo
numa recolha marítima
enquanto te afastas e me deixas ver
sem saber, nem ter, nem ser
sob ainda teus úmidos cachos dourados
que repousa ao redor de tua nuca
uma borboleta.
em que teus lábios e dentes avermelham-me
tua face cora, tuas unhas pregam
o que trouxeste do pavor de si
na escuridão da minha ausência
Asim, como atado à deriva
das tuas superfícies,
entrego-me ao que buscas
entre os suspiros, os olhos sem rumo,
as palavras incompreensíveis que tocam
alucinantemente cada palmo do ar deste lugar
em ondas, ondas, ondas!
pelos, cabelos, nuca, mãos e pernas
alheios a todas as direções
a todo o medo das ruas lá fora
a tudo o que deve ser ou não
É tempo ainda
e transmutas dor e prazer
nas faces, mil faces esfíngicas,
em formas, mil formas inapreensíveis,
e confuso percorro tua nuca em busca
em busca da fugidia loucura, insânia, necessidade,
entre a trêmula luz e meus olhos fechados,
quem sabe, morder-te...
quem sabe, voar!
Vieste-me contar dos teus,
vieste-me prender nos teus,
vieste-me buscar pros teus,
vieste-me deter nos teus,
vieste-me voar por teus,
vieste-me à superfície para que eu fosse aprofundar-me
e a ti
agora
como que em transe profundo
numa recolha marítima
enquanto te afastas e me deixas ver
sem saber, nem ter, nem ser
sob ainda teus úmidos cachos dourados
que repousa ao redor de tua nuca
uma borboleta.
domingo, 23 de junho de 2013
Prenúncio
Desaparecerão:
as algas do mar;
os peixes do mar;
os navios do mar;
os homens do mar.
Permanecerão:
o tempo e o mar.
as algas do mar;
os peixes do mar;
os navios do mar;
os homens do mar.
Permanecerão:
o tempo e o mar.
sábado, 8 de junho de 2013
quarta-feira, 22 de maio de 2013
Safo I
Sobre seu corpo negro
Deito
Incandecente
Os dedos e os desejos de homem
Por percorrer suas curvas
Em sons e tato crus
Ela repousa em mim
Extática porque em transe
O momento crucial do toque efetivo
Do vibrar de seu corpo
Seus ecos
Seus vãos
Seus macios
Seus rígidos
Corpos fundidos em si
Mulher, negra como o que vejo de luz e calor e suor no fechar de olhos final
E aos meus ouvidos
A transfiguração do toque e do som
Que nela
Que dela
Que bela!
Exprimo
O gozo profundo
Do desejo que não cessa
E é música em seus cabelos
sábado, 18 de maio de 2013
Menina de nome russo II
O que há de amor
Há nela
Que sobreviveu a mim
Que sobreviveu a ela
Que me tece longos lençóis
Enquanto não chego
O que há de mim
Há nela
Que me sabe quem sou
E sorri quando em frangalhos
Volto a ela
Assinar:
Postagens (Atom)