sábado, 30 de março de 2013

Fecham-se os olhos

Fecham-se os olhos a esta hora
Enquanto é um tempo e a cidade acorda
Enquanto não começaram a passar os aviões
Enquanto não se ouve do apartamento ao lado o sapateado firme do cotidiano

Fecham-se os olhos a esta hora
Enquanto o mar ainda bate nas encostas
Enquanto a espuma ainda forma seus sorrisos brancos
Enquanto a chuva não espanta os casais da grama
Enquanto as festas estão longe de terminar

Fecham-se os olhos a esta hora
Enquanto o Rio é uma cidade curiosa e ela não entende a eficaz equação do homem e da natureza
Enquanto comem biscoitos Globo pelas praias
Enquanto seu corpo lhe dá ordens sobre ferro e minerais
Enquanto os homens nunca acordam de verdade

Fecham-se os olhos a esta hora
Enquanto a claridade que não veio torna a promessa de um novo dia quase ilusória
Enquanto na rua o leiteiro andaria se houvesse e talvez morreria em tons de vermelho, como cantava Drummond
Enquanto a lágrima não rola por ter dito adeus a ele
Enquanto não percebe que isso e o demais não abrirão jamais seus olhos

Fecham-se os olhos
E continuamos a caminhar

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