segunda-feira, 25 de março de 2013

Ensaio sobre Flora


Descansam geladas agora
As mãos que conheceram minhas noites febris
Aqueles olhos tão vivos e cúmplices
das artes de uma menina-lua,
clara e escura,
repousam olhando para dentro de si

Sim

As pequenas confissões que ainda criança ouvi sem entender
e que agora, mulher, temo não compreender

Flora, minhas estações agora passam sem ti
Amadureces outras flores e frutos por campos outros deste mundo,
mas nesta saudade que trago, represo uma vida em que não sei se caibo ou ao menos se cabe em mim...

Mulher que ultrapassa, Flora,
e que às vezes suplica para quase não ser,
porque dói,
porque irrita,
porque quem sabe fosse feliz em simplesmente não saber...

Mas não

Lembro dos rios que o tempo
lentamente
abriu em tua pele…
rios que já secos eu menina conheci
Sulquei minha pele pela verdade,
porque não sei esperar
como você sabia,
como soube,
como me disse adeus...

Agora

Daqui a pouco, pouco menos,
chega o outono por estes lados do mundo em que isso na verdade nunca fez tanta diferença
Mas todos se lembram de você, e não poderia ter sido melhor a ocasião para que todas as vezes que uma lágrima fora de hora insistisse em cair eu a chamasse, aos companheiros, de suor

Então

O outono, Flora, minha Flora, chega logo mais
e hoje faz mais sentido que se seque para se renovar
Assim, Flora, amadureceste-me
até o dia de - quem irá saber? - num dia de verão eu também invernar

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