quarta-feira, 26 de junho de 2013

Manifesto

Desejo incontido na noite
em que teus lábios e dentes avermelham-me
tua face cora, tuas unhas pregam
o que trouxeste do pavor de si
na escuridão da minha ausência

Asim, como atado à deriva
das tuas superfícies,
entrego-me ao que buscas
entre os suspiros, os olhos sem rumo,
as palavras incompreensíveis que tocam
alucinantemente cada palmo do ar deste lugar
em ondas, ondas, ondas!
pelos, cabelos, nuca, mãos e pernas
alheios a todas as direções
a todo o medo das ruas lá fora
a tudo o que deve ser ou não

É tempo ainda
e transmutas dor e prazer
nas faces, mil faces esfíngicas,
em formas, mil formas inapreensíveis,
e confuso percorro tua nuca em busca
em busca da fugidia loucura, insânia, necessidade,
entre a trêmula luz e meus olhos fechados,
quem sabe, morder-te...
quem sabe, voar!

Vieste-me contar dos teus,
vieste-me prender nos teus,
vieste-me buscar pros teus,
vieste-me deter nos teus,
vieste-me voar por teus,
vieste-me à superfície para que eu fosse aprofundar-me
e a ti
agora
como que em transe profundo
numa recolha marítima
enquanto te afastas e me deixas ver
sem saber, nem ter, nem ser
sob ainda teus úmidos cachos dourados
que repousa ao redor de tua nuca
uma borboleta.

domingo, 23 de junho de 2013

Prenúncio

Desaparecerão:
as algas do mar;
os peixes do mar;
os navios do mar;
os homens do mar.

Permanecerão:
o tempo e o mar.

sábado, 8 de junho de 2013