domingo, 28 de julho de 2013

Piano na Estação da Luz

Metade de um raio perdido de sol em seu rosto
Alguma sensação de que o mundo é seguro
Ela delicadamente pousa seu dedo médio
numa tecla numa região média de um piano médio na Estação da Luz

O som é incerto, desafinado por úmidos rumores diários no salão de passagem
Oxigênio, umidade, gentes...

Ela toca, ouve, baixo, o que toca, e sabe,
toca o mundo

Quero protegê-la, porque ela me salvou,
porque ela me disse com isso coisas da grande cidade que come sonhos
mas que dorme às noites (dorme?) e abre espaço para o qualquer
desejo que nos guarda de nossa autodestruição

Seus olhos de índia,
seus cabelos indecisos entre colonizadores e colonizados
seus cabelos presos num rabo de cavalo familiar, armado pelas tias que cuidam dela, que ralham com ela, que a protegem  de tudo,
de coisas de nós…

Como se o mundo fosse seguro,
ela toca para sempre uma nota,
ela ouve baixinho o que guardam seus dedos em contato
e não sabe,
e não lhe direi!

Não lhe direi, e nem poderia dizer, nunca sobre tudo isso
porque tudo o que destoa entre ela e o mundo
é o modo como seus dedos tocam as teclas
o modo como explora o desconhecido
o modo como confia
e como soa o seu som sozinho
movimentos dela e do ar
ela tem poucos anos

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